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terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Um homem e ele mesmo


  Foto: Daniel Carvalho Gonçalves


No dia em que iria morrer
Ele amanheceu com o sorriso
Mais doce que já experimentara
Até agora em sua vida.
A água do seu banho
Parecia uma bênção em sua pele,
Como se tivesse um toque divino.

Doze horas antes de morrer
Ele beijou a mulher amada
Como se fosse aquele o primeiro beijo
E tivesse, em si, promessa de eternidade,
Abraçou o filho qual quisesse
Doar-lhe energia para que o
Iluminasse sempre com seu riso feliz.

Onze horas antes de morrer
Ele cumprimentou os vizinhos
E viu a admiração nos olhos deles,
Sentiu o coração gritar de alegria
Por ter conhecido aquelas pessoas.

Dez horas antes de morrer
Ele desejou bom dia aos
Colegas de trabalho e 
Não se lembrou dos defeitos deles,
Como se só agora visse a
Luz que emanava de seus semelhantes.

Nove horas antes de morrer
Ele cantou baixinho,
Quase dentro de si,
Aquela canção que ele dizia
Não gostar, mas que o fazia
Se sentir vivo e feliz.

Oito horas antes de morrer
Ele sentiu que pensava 
Mais rápido e sentia mais
Prazer no trabalho 
Que já realizava há anos,
Talvez estivesse mais inspirado.

Sete horas antes de morrer
Ele olhou pela janela
E viu o sol mais brilhante,
Melhor, "viu" o sol,
E, pela primeira vez, acenou
E sorriu para um estranho
Que passava pela rua
Como se fossem velhos amigos.

Seis horas antes de morrer
Ele soltou aquele grito vibrante
Que há muito sentia vontade,
E muita gente condenou aquele gesto,
Outros, apenas sorriram,
E alguns, nem ouviram,
Tamanha a apatia em que viviam.

Cinco horas antes de morrer
Ele se olhou num espelho
E viu um homem bonito e feliz,
De fato, seus olhos brilhavam
Como se revivessem os momentos
Em que mais sorriu na vida.

Quatro horas antes de morrer
Ele saiu à rua,
Cantarolando como se fosse criança,
Com leveza de espírito,
E se lembrou de todas as pessoas
Que amava, abraçando a imagem
Da mulher e do filho.

Três horas antes de morrer
Ele entrou na casa dos pais,
Os dois já velhinhos,
Pediu a bênção e beijou-os,
E, como há muito não fazia,
Disse-lhes o quanto os amava.

Duas horas antes de morrer
Ele passou por crianças pedintes
Na rua e não os viu com a 
Simples pena, quase indiferença,
Do dia-a-dia, pensando então:
"Amanhã vou trazer algumas
Roupas para elas."
Este pensamento o fez sentir-se
Mais próximo do divino.

Uma hora antes de morrer
Ele viu a noite, as luzes
Mágicas da cidade, as luzes
Abençoadas das estrelas e da lua.
Nunca o céu fora tão lindo.

Um minuto antes de morrer
Ele refletiu sobre como era
Iluminado, como a sua vida era
Prazerosa, e sentiu a paz
Invadir a sua alma tão intensamente
Que ele parecia flutuar.
Como estava feliz!

Um segundo antes de morrer
Ele viu uma luz que o chamava,
E, de repente, o silêncio...


Daniel Carvalho Gonçalves
Escrito em 21 de dezembro de 2008
Abraço!

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