Os mesmos olhos
Foto: Daniel Carvalho Gonçalves
Com ingenuidade no olhar
Recordei amores que ousei sonhar,
Penetrei em minh'alma, fui buscar a raiz.
Do paraíso onde eu quis morar
Hoje me restava somente a cicatriz.
Me senti simplesmente criança,
Cheio de esperança,
Transbordando, em meu riso, carinho inocente.
Tão longe de minha aparente bonança
Meu coração agonizava, dolente.
Compreendi que estava me perdendo,
Apenas por ilusões, morrendo.
E, olhando minhas lágrimas caídas,
Senti vontade de sair correndo,
Desesperado, em busca da saída.
O frio da vergonha me açoitava a face,
E eu procurei um disfarce
Que ocultasse do mundo a minha dor.
Por mais que procurasse
Não encontrava em tudo o que vivi um real amor.
Mísero! Que sonho cruel,
Com doce sabor de fel,
Eu conquistara para mim!
Não existira o eterno mel,
Nem aquele amor sem fim.
Olhei para o sol ardente
E para as flores ainda dormentes,
E, naquela manhã, abracei-me, expectador
De um dia que brilha somente
Para os loucos que acreditam no amor.
Foi quando ouvi um som ao meu lado,
O soluço de um coração abandonado.
Uma lágrima triste se deixou cair
Naquele rosto fragilizado
Pelo amor que acreditava possuir.
Perguntei por que chorava,
E ela me disse que era porque amava.
Perguntou se eu acreditava nessa fantasia,
E eu lhe disse que também sonhava
Com muitas formas de poesia.
Um sorriso brilhou naquele olhar
Como uma luz que não pode se apagar.
Éramos tímidos naquele mágico momento,
E nem vimos o tempo passar
E levar consigo o nosso tormento.
Éramos tão iguais!
Estávamos a procura de paz.
Buscávamos o sentimento que nunca se finda.
Coloríamos o arco-íris com um sonho a mais.
Poetizávamos, da vida, as coisas lindas.
Nos abraçamos, em cumplicidade,
Como crianças envoltas em simplicidade.
Nenhuma promessa fizemos nesse instante,
Pois, a verdadeira felicidade
É feita da mutualidade constante.
Era um dia triste quando nos encontramos,
Fez-se um dia lindo quando nos tocamos.
Criamos, em silêncio, as chances de um grande amor,
E esse sonho que juntos semeamos
Arderá, em nós, qual chama que vive em razão do amor.
Daniel Carvalho Gonçalves
Escrito em 22 de julho de 1992
Abraço!
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