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sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Na própria pele


  Foto: Daniel Carvalho Gonçalves

        Quem passasse pela rua ao entardecer, não poderia imaginar o homem viril que já fora "seu" Altamiro, agora velho, frágil, numa cadeira de rodas e só, muito só.
        Não poderia, também, ouvir seus pensamentos, recordações da 
juventude: "- velho? Ah!, velho só serve para atrapalhar."
        Não tivera tempo para abraçar, para conversar, oferecer carinho, a um idoso. Não. Os arroubos da mocidade, o desespero por um "rabo-de-saia", os esportes, as diversões, os jogos de azar, as bebidas, os bares, a vida boêmia, tudo isso era importante demais para ser trocado por alguns minutos ao lado de um velho.
        Lembrava agora de um dia, em seus vinte e poucos anos, quando o avô, ao tentar caminhar pelo pomar, na chácara da família, caiu e cortou a testa numa pedra. "- Esse velho é burro", dissera ele, "olha como ficou a minha camisa branca!" Nem notara a dor e a angústia do ser humano que trazia no colo.
        Em sua solidão, ouvia sempre a mesma frase: "- velho? ah!, velho só serve para atrapalhar." Agora isso feria sua alma, doía demais. Como queria conversar com alguém, contar a sua história, ensinar o que aprendera em sua vida! Mas como convencer um jovem de que os velhos precisam de carinho, se ele mesmo, um dia, não tivera tempo?
        E, nesse silêncio solitário, baixou a cabeça ao sentir um aperto no peito, sentiu dificuldade em respirar e, talvez, a última coisa que tenha ouvido foi: "- velho? Ah!, velho só serve para atrapalhar."


Daniel Carvalho Gonçalves
Escrito em 05 de março de 2001
Abraço!

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