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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

O presente

O presente

  Foto: Daniel Carvalho Gonçalves


Deus, me deste o insano dom de escrever,
Arte de fazer das palavras um brinquedo.
Deste também um amor de estranho poder,
A magia no útero de um segredo.

As palavras surgem num gentil acaso,
Como garoa e brisa num fim de tarde,
Como semente plantada em solo raso,
Apenas prefácio duma obra de verdade.

O amor é semente no solo profundo,
Germinando forte, criando raízes,
excelso soberano de seu mundo,
Iluminado, como é, por suas próprias luzes.

As palavras mendigam tanta felicidade, 
Pois, sabem que o amor dum homem e de uma mulher
Não é finito como o estentóreo duma tempestade, 
Nem é definido por um poema qualquer.


Daniel Carvalho Gonçalves
Escrito em 22 de abril de 1999
Abraço!

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Adeus a um anjo

Adeus a um anjo


  Foto: Daniel Carvalho Gonçalves


Adeus, Maria Guerreira,
Doce arranjo, Helena!

Vai, que eu te guardo, intocável,
Em meu coração de filho,
Que eu zelo por tua imagem inexorável,
E atento a pisar em teu mesmo trilho!

Adeus, adeus, até quando?
Quando, mãe, o teu riso novamente?
Quando o velar por teu sono
E o ver-te despertar contente?

Quando, querida, o teu abraço
E o afago em tuas alvas melenas?
Estarás presente em todos os meus passos,
Guando-me com tuas mãos pequenas.

Adeus, que é indecifrável o destino,
E são colhidas primeiro as flores mais belas.
Adeus, que te guardo com carinho,
Mãe, amiga, diva mulher, quimera!

Perdoa, mãe, as palavras não ditas,
Ah, todo o meu amor não confessado.
No afã de ser forte (acreditas?)
Como tu, quase ao poeta eu mato.

Fica um pouco de tua alma em mim,
Gotas cálidas de tua generosidade.
Fica o orgulho, o sonho e, enfim,
Tua ausência doendo em forma de saudade!

Adeus, valente Maria,
Suave e terna melodia!

Adeus, te digo em silêncio,
Pois, em silêncio se despediu.
Adeus, até um dia, eu penso!


Daniel Carvalho Gonçalves
Escrito em 01 de novembro de 1999
Abraço!

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Soneto da conquista

Soneto da conquista


  Foto: Daniel Carvalho Gonçalves


O sonho aconteceu de repente
Como um raio iluminando a noite,
Como bote certeiro de uma serpente
Ou o golpe ligeiro de algoz açoite.

Adentrou os domínios frios da rocha,
Escravizou e domou seu sentimento,
Provocou medo, apagou as tochas
Da escassa iluminação, furioso vento

Fazendo do arrogante deus um menino,
Ensinando o amor dum jeito dolente,
Provocando desejo com índole de vinho.

Só mesmo uma mulher com jeito inocente
E a malícia agreste de um espinho,
Para jogar aos seus pés meu sonho demente.


Daniel Carvalho Gonçalves
Escrito em 25 de dezembro de 2000
Abraço!

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

O encontro

O encontro


  Foto: Daniel Carvalho Gonçalves


Fui andando devagar
Como quem não conhece o caminho,
Abri a porta suavemente
Como se tivesse medo.

No primeiro instante
Havia silêncio,
Uma paz envolvente.

Depois, luzes festivas
Comemoravam,
Brindavam,
Embebedavam de alegria.

Mas percebi um canto escuro,
Uma dissonante,
Uma farta mesa de máscaras,
Meias-verdades,
Blefes e trunfos
Guardados como tesouro.

Em meio a esse paradoxo,
O amor, em suas mil faces,
Reinava, inexorável,
Sobre o bem e o mal.

Percebi que, para mim,
Não havia segredos, 
Apenas a leveza
Do encontro
Comigo mesmo.


Daniel Carvalho Gonçalves
Escrito em 02 de fevereiro de 2014
Abraço!