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segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Destinos divergentes

Destinos divergentes


     Foto: Daniel Carvalho Gonçalves


Numa símplice manhã da vida,
Uma alva e airosa rosa

Enamorou-se de um raio de sol.
Tingiu-se rubra pelo arrebol;

Exalou, contente, um gentil perfume;
Descobriu que também sentia ciúme

Quando as outras flores do jardim
Abraçavam o cálido raio. E, assim,

O dia passou, célere e indiferente,
E veio a noite descobri-la dolente,

Lacrimejante, triste e silente.
Orvalhou-a num carinho inocente,

Como se isso a fizesse esquecer
Do amor que, na noite, se deixou perder.

Veio, então, a manhã aconchegar seu coração.
E colhida foi pelo carinhoso toque de uma mão.


Daniel Carvalho Gonçalves
Escrito em 24 de abril de 1994
Abraço!

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Inquietude

Inquietude

     Foto: Daniel Carvalho Gonçalves


Pelas ruas da cidade,
Num dourado fim de tarde,
Pessoas brincam de ir e vir.
Cativas de alguma forma de saudade
Elas vão seguindo, sem sabem por onde ir,
Em busca de imaginária felicidade.

Procuram a paz em cada olhar
Convictos de que a encontrarão;
Sorriem para velhos amigos
Que, com certeza, retribuirão.
Sonham com as ondas do mar
E se deixam, enfim, abraçar
Por emoções que jamais fenecerão.

Entre os transeuntes quase em transe
Não há quem se canse 
De existir, viver, falar de amor;
Muitos sorriem, se esquecem da dor;
No fim de tarde não há quem pense
Que o outro dia não será melhor
E que o pior é apenas uma história triste.

À noite, exsurgem dos bancos da praça
E, quase sem graça, voltam para casa.
Já não sabem o que são:
Pedaços de papel com versos de ilusão.

Neste momento não há quem não faça
De um ideal uma paixão.
Da tarde, do povo,
Resta meu coração.


Daniel Carvalho Gonçalves
Escrito em 09 de fevereiro de 1992
Abraço!

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Pássaros humanos

Pássaros humanos

     Foto: Daniel Carvalho Gonçalves


Eram dois pássaros,
Traziam sonhos iguais,
E, sob suas sonoras sombras,
Repousava a esperança
Quase inexorável de pousar
Num imaginado paraíso.

Venceram a distância,
Vagaram por terras sem fim,
Venceram os ventos,
ignoraram a dor,
Desafiaram relâmpagos e trovões,
E, já exângues,
caíram ao solo, exânimes,
destruídos pela busca de sonhos
Que existiam apenas no seu íntimo infantil.

Nós somos esses pássaros,
Pássaros humanos,
E fazemos de ínfimos sonhos
Um ideal pelo qual lutar.
Preferimos ignorar nossa nua verdade
Em busca de um disfarce cruel cravejado de joias.
Nós não sabemos "voar".


Daniel Carvalho Gonçalves
Escrito em 25 de março de 1993
Abraço!

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Abstrato

Abstrato

     Foto: Daniel Carvalho Gonçalves


Venho de sentimentos disfarçados
Nas entrelinhas sutis do olhar,
De segredos desavergonhados,
Subentendidos num breve gesticular.

Trago gritos resumidos em silêncio,
Um predador transformado em presa,
Um vendaval num desejo suspenso,
Mendigo carente, fingindo realeza.

Meu poema é sub-interpretativo,
Tal qual o canto de pássaro cativo,
Felicidade em canção dolente.

Meu amor é másculo, protetor;
É água, fogo, frio e calor,
E, de repente, uma criança carente.


Daniel Carvalho Gonçalves
Escrito em 24 de setembro de 2016
Abraço!