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quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Um poeta diante do espelho

Um poeta diante do espelho


     Foto: Daniel Carvalho Gonçalves


Detém-te, silencioso e reverente, ó poeta,
Pois, tens apenas palavras, e, ora, palavras nada são
Para descrever tua alma infante, fazendo festa
Ao simples sorriso da mulher que encanta teu coração;
Palavras não são nada para contar daquela que empresta
Magia ao sonho, sublimando, divina, qualquer canção.

Detém teus míseros versos como se fossem pecado,
Tuas rimas, tantas, como se fossem técnica profana,
Pois, não são apropriados à mulher que tens ao teu lado,
Excelsa deusa, mais elevada do que qualquer poema.

Ama apenas. Ah! O amor não exige explicação.
De fato, diz, pode um qualquer mortal definir o amor?
Como ousas tu, que trazes nos olhos uma interrogação?
Ah! Teu pecado tem perdão, pois, és somente um sonhador.


Daniel Carvalho Gonçalves
Escrito em 24 de fevereiro de 1997
Abraço!

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Vida nua

Vida nua


     Foto: Daniel Carvalho Gonçalves


Quantas desilusões o homem precisa sofrer
Até entender as sutilezas do destino?
Quantos sonhos é preciso deixar morrer
Até descobrir seu verdadeiro caminho?

Quantas vezes é preciso cair
Até aprender a contornar o obstáculo?
Quanto é preciso chorar, fingindo sorrir,
Até conhecer os bastidores do espetáculo?

Compreendi que cada erro, cada desacerto,
É um passo para o aprendizado;
Que a dor pode conduzir ao acerto;
Que qualquer desafio pode ser superado.

Aprendi que existe a felicidade,
Mas que ela não está no outro,
Talvez na forma como o outro é percebido.
Entendi que um amor de verdade
Não exige que a pessoa nos complete,
Mas é algo além de nosso egoísmo,
É um remédio ou veneno que carece ser bebido.


Daniel Carvalho Gonçalves
Escrito em 10 de setembro de 2016
Abraço!

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Moleca

Moleca


     Foto: Daniel Carvalho Gonçalves


Ela tem encanto correndo nas veias,
Um poema disfarçado de mulher,
Um fogo queimando em pele morena,
Olhar de quem sabe bem o que quer.

Ela é moleca, suave menina,
Riso fácil de criança arteira,
Arquitetando sonhos, feminina,
Prevendo asas em suas brincadeiras.

Cada gesto seu irradia verdade,
Um demônio estranho, de leve maldade,
Um anjo no paraíso, perdido.

Uma borboleta voando, airosa,
Uma canção inesquecível, gostosa,
Uma mistura perfeita, um vinho divino.


Daniel Carvalho Gonçalves
Escrito em 14 de setembro de 2016
Abraço!

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Paralipse

Paralipse


     Foto: Daniel Carvalho Gonçalves


Ser poeta é ser insolente,
É insinuar com malícia,
Com inocência aparente.

Ser poeta é abraçar o despudor
Para falar de seus sonhos,
Ignorando sua própria dor.

Ser poeta é morrer de saudade
E versejar seu infortúnio
Como se fosse felicidade.

Ser poeta é fazer das palavras
Um brinquedo
E das ações um fracasso,
Por inexperiência ou medo.

Ser poeta é matar o herói
E perpetuar o vilão.
É inexplicar porque dói
Amar com tanta paixão.


Daniel Carvalho Gonçalves
Escrito em 22 de fevereiro de 1995
Abraço!

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Fêmea indefinição

Fêmea indefinição


     Foto: Daniel Carvalho Gonçalves


Ó mísero amante, poeta e tolo,
Podes tu definir a alma feminina?
Então, por que te jactas, se o teu consolo
É o vazio de tua alma ferida?

Quiseram tantos defini-la como rosa,
Gentil, na transpiração de puro carinho.
Se esqueceram que ela, tão maravilhosa,
Trazia, na inocência, um espinho.

Responde: qual mulher pode te fazer chorar
Ou te fazer de brinquedo ao seu bel-prazer?
Acaso somente uma bruxa malvada
Obtém o poder de fazer um homem sofrer?

Mas o sorriso não é condão só dos anjos
Nem é só das flores doar felicidade.
Por isso, explica-me, tu que és sábio,
A fêmea alma com a mais virgem verdade.

Se nada sabes, faz teus lábios silentes,
Pois, anjos têm também índole de serpente,
E são indefiníveis como nuvens no céu.

Daniel Carvalho Gonçalves
Escrito em 20 de junho de 1995
Abraço!