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quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Memórias póstumas de um ébrio desconhecido


  Foto: Evandro Carlos Ferreira dos Santos


"Indigno de ser lembrado com saudade."
Assim, quem sabe, pensaria um tolo.
Não deveria nossa humanidade
Divisar além de um preconceito tolo?

Era um ébrio o nosso personagem,
Escravo de suas próprias fraquezas,
Um desamado, inerme de coragem
Para erguer-se ante sua pobreza,

Aliás, não era pobre realmente,
Nem mesmo de espírito era pobre.
Um fraco. Pobre para alguns ignorantes
Que nunca viram o seu sorriso nobre,

Riso de quem sabe julgar a si mesmo,
Lágrima de quem não tem força para lutar.
Talvez por isso vivesse tão a esmo,
Talvez por razão que ninguém sabe explicar.

Ora!, quem não conheceu seus amores?
Todos sabiam, ele amou sozinho.
Ninguém, ninguém conheceu as suas dores.
De fato, quem lhe ofertou um carinho?

Um dia, quis correr atrás dos seus sonhos,
Queria, louco, ser alguém de verdade.
Mudou de cidade, ai!, pobre bisonho,
O destino lhe negou felicidade!

Foi achado morto em um beco qualquer,
Ainda vivo na lembrança de uns poucos.
Esse poema é o seu riso de fé,
Sua dor, saudade de quem foi um louco.


Daniel Carvalho Gonçalves
Escrito em 21 de junho de 1996
Abraço!

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