O anônimo
Foto: Daniel Carvalho Gonçalves
Eram quatro horas da madrugada, e João Messias do Nascimento, como em todos os dias nos últimos trinta e cinco anos, se levantou, fez o café e acordou os quatro filhos solteiros, três homens e uma mulher, para que às cinco, em ponto, estivessem a caminho da horta que garantia o sustento da família.
Exibia com orgulho as mãos calejadas pela labuta constante, "mão de homem", segundo ele. Este era um troféu cultivado com anos e anos de trabalho, símbolo de sua honestidade e excelente caráter.
Enquanto fumava seu cigarro de palha, sorria, vitorioso, ao ver o verde tapete de seus canteiros de alface, o vermelho contrastante dos tomates maduros. Seu suor não tinha sido em vão.
Trazia consigo a esperança de fazer um "pé-de-meia" para os filhos, comprar um pedacinho de terra para cada um deles criar sua própria família. Mas o lucro que tinha mal dava para pagar as dívidas, e ficava sempre a esperança de que no ano seguinte seria melhor.
E, como é certo na vida que todo homem tem seu fim, João sabe seu destino: será lembrado apenas pela família e uns poucos amigos. O homem do campo, que fornece alimento para uma nação, é apenas mais um "zé", um anônimo sem nenhuma importância. O herói de dignidade invejável, não é saudado por isso, ninguém se lembra de quem vive da terra e para a terra e morre nessa ingrata luta.
Neste momento, o homem de ferro, talhado a fogo, o herói de verdade, enxuga uma incômoda lágrima que lhe molha a face.
Daniel Carvalho Gonçalves
Escrito em 12 de abril de 2001
Abraço!
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