O condenado
Foto: Daniel Carvalho Gonçalves
Caminhava o condenado, cheio de alento,
Ora, inocente, absorto em seus pensamentos.
Ia garboso, qual se nada pudesse lhe ferir,
Como se os espinhos fossem flores a lhe sorrir.
Estava feliz com tudo o que a vida lhe dera:
Amigos, filho, sua esposa, suas quimeras.
Ia, poeta, compondo seus versos ao acaso
Das rimas que nasciam da magia do ocaso.
Vagava, orgulhoso de suas mãos calejadas
Pelo brutal trabalho. Sofrera nessa estrada.
Pensava no riso de sua amada, carinho
Intenso, sua fortaleza, seu sonho, seu ninho.
Ah! Ia cantando em sua hora derradeira,
Tão contente, ignorando sua sorte faceira.
Ria sozinho, na expectativa de seus sonhos,
A alma pura, refletida em seus olhos bisonhos.
Pensava no abraço do filho, pingo de gente,
Em seu rostinho alegre, seu maior presente.
Caminhava o condenado sem saber seu fado,
Sem saber que a morte caminhava ao seu lado.
Eis que um tiro certeiro, vindo de não sei onde,
Lhe abre uma chaga no peito e lhe esconde
O direito de realizar seus sonhos mais simples,
Fazendo daquele sorriso um gesto fúnebre.
E, de todo aquele fulgor de felicidade,
Da sua nobreza, hoje só resta saudade,
E a certeza de que somos apenas meninos,
Indefesos contra os desígnios do destino.
Daniel Carvalho Gonçalves
Escrito em 21 de maio de 1997
Abraço!
Nenhum comentário:
Postar um comentário