Canção para alguém
Foto: Daniel Carvalho Gonçalves
Que soprasse a brisa de outono
E levasse minhas palavras como
Se fossem plumas gentis e inúteis,
Fossem elas apenas rimas fúteis
Que não podem transmitir o que sinto.
Que eu esquecesse a poesia
E chorasse à simples melodia,
Insistente canção que me traz você
Nua e real, quase covardia,
Ah!, eu não quero nunca lhe esquecer!
Oh! Que seus olhos castanhos inspiram
A estética rima, me fascinam,
É algo que não consigo esconder.
Como se fosse um anjo arteiro,
Os seus sedutores lábios vermelhos
Aprisionam-me à sua mercê.
Eu amanheceria no sereno
Se abraçasse seu corpo moreno
Por uma vida, mais que um momento.
Que perca a rima e a razão
Ou que o meu sonho não tenha perdão,
Mas não perca a sua inspiração.
Ora, como pode um homem viver
Sem a sua musa, essa deusa-mulher,
Anjo-demônio, flor-espinho,
Que, por capricho (quem sabe carinho),
Faz dele um tolo, o que bem quiser?
Que soprasse o vento de outono
E me deixasse silente e bisonho.
Que viesse, frígido, o inverno,
Como se fosse gélido inferno,
E me descobrisse frágil, despido,
Mas que eu nunca ficasse sem você,
Pois, eu juro que ficar sem você
É perder, da vida, todo o sentido.
Daniel Carvalho Gonçalves
escrito em 20 de junho de 1994
Abraço!