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sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Unforgettable

Unforgettable


  Foto: Daniel Carvalho Gonçalves


Ela chegou num dia de chuva
Como se fora um vento brando,
A incógnita, a surpresa, a curva,
Com veneno adocicado, nefando;

Trouxe nos olhos um mistério,
Um quê de inocência e pecado,
Sem nenhuma palavra me disse: - "te quero",
Música para meus sonhos cansados.

Tocou meu corpo qual tivera magia,
Seu beijo macio como pétala de rosa,
Cálido como enlouquecida febre, ardia
Numa enxurrada de volúpia deliciosa.

Ela chegou como o mais sutil demônio,
Se apossando de minha alma,
Enlouquecendo meus sonhos,
Arrancando do poeta a calma.

Ela chegou como se fora uma lágrima,
Ora de felicidade, ora de dor,
Tempestuou cada poro de minha libido
E, angelical, fez germinar o amor.


Daniel Carvalho Gonçalves
Escrito em 27 de março de 2001
Abraço!

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Naufrágio

Naufrágio


     Foto: Daniel Carvalho Gonçalves


Navego, veleiro poético, em meu destino,
Pelas ondas misteriosas do teu mar.
Todo veleiro é barco de papel, menino,
Que ao teus encantos se deixa levar.

És, de todas, a tempestade mais bravia,
E, no entanto, o mais risonho sol,
Porque tens em ti a mais pura poesia,
O rubro silêncio lapidado dum arrebol.

Eis que meu corpo parece bailar
Ante tão ardente, deliciosa, brisa
Que o teu perfume espalha no ar.

Pareces um desdenhoso signo que avisa:
- " Não brinques com fogo. podes te queimar."
E me queimo e me afogo em tua tez alva e lisa.


Daniel Carvalho Gonçalves
Escrito em 30 de agosto de 1999
Abraço!

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Manhã do amanhã

Manhã do amanhã


  Foto: Daniel Carvalho Gonçalves


Haverá um dia em que as armas
Serão inúteis,
E a penumbra não trará consigo o medo.

Haverá, em algum momento no tempo,
A conquista absoluta da verdade,
Desnudando a cada passo o riso completo.

Haverá, na noite mais escura,
Um céu repleto de estrelas,
E, no alvorecer mais calmo,
Um suave orvalho brincará
Onde corria uma lágrima triste.

Haverá um dia em que todos serão irmãos,
E os olhos verão, então,
A cor da alma.

Haverá um dia em que seremos colossais
Como as coisas mais frágeis,
Poderosos como os sonhos mais doces
E complexos como a pétala mais simples.

Haverá um dia em que pisaremos o paraíso,
Conheceremos além de nossa perfeita imperfeição,
Amaremos como nem ousamos imaginar,
Seremos eternos como se fôssemos deuses,
Enfim, toda lágrima derramada
Será uma flor que exsurgirá...
Um dia.


Daniel Carvalho Gonçalves
Escrito em 18 de maio de 1993
Abraço!

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Susanne

Susanne


  Foto: Daniel Carvalho Gonçalves


 Carinho de mãe ela não conheceu,
Pois, no seu parto ela morreu.
Nunca teve um pai de verdade,

Ele não lhe dava atenção.
Não que, de ser ferino, tivesse intenção,
Mas se embriagava de infelicidade.

Susanne não conhecia um lar,
Não tinha ninguém com quem conversar,
"Sozinha", aos quatro anos de idade.

Ganhou as ruas ainda pueril,
Mas não soube o que é ser infantil.
Aos cinco já conhecia toda a cidade.

Aos seis tinha um grupo de "amigos",
Na verdade, um bando de "perdidos".
Aos sete perdeu o pai num acidente,

Mas nem por isso chorou,
De fato, nem se importou -
Ele nunca se fizera presente.

Aos oito a um orfanato foi acolhida,
E por um tempo sentiu-se querida,
Mas dava saudade da rua, da liberdade.

Aos nove fugiu da sua "prisão"
E abraçou novamente a solidão -
Não encontrou a esperada felicidade.

Viveu de migalhas de pão,
Restos, lixo, dormiu no chão, 
Sofreu, mas insistiu em viver.

O tempo passou com agressividade
E ela entre a escória da sociedade,
Prostituindo-se para sobreviver.

Procurava um emprego decente,
Algo que a fizesse sentir-se mais gente,
E aos dezessete anos conheceu Fernando,

Rapaz pobre, mas trabalhador,
De boa moral, cheio de pudor,
E aos poucos foram se enamorando.

Conseguiu um emprego, começou a estudar,
Pois, escola era um luxo que não pudera se dar -
Agora sua vida tinha um sentido.

Fernando lhe pediu em casamento -
Não cabia em si de contentamento.
A gora o passado era um tempo perdido,

Uma sombra que ela iria apagar. 
Importava agora construir um lar,
E Susanne estava agora tão perto!

Aos dezenove casou-se, e, enfim,
A felicidade parecia não ter fim,
Tudo estava absolutamente certo!

Aos vinte e um teve seu primeiro filho,
E este teria o amor de mãe, seu trilho
Não teria tantos espinhos.

Ela agora tinha com o que se orgulhar:
Um marido, um filho, de fato, um lar,
Tinha alguém com quem compartilhar seu carinho.


Daniel Carvalho Gonçalves
Escrito em 06 de julho de 1993
Abraço!

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Indefinição

Indefinição


  Foto: Daniel Carvalho Gonçalves

Alma de poeta é tempestade,
É gênese ditando a ordem
Em meio ao caos, saudade,
Desatino, riso, desdém

Do seu ego, inocente piada,
Absorto em sentir,
Sem metria nem nada,
Puramente sentir.

Alma de poeta é fogo,
Fúria febril que consome,
Pecado, sacrílego rogo,
Desejo com índole de fome.

É farsa indisfarsável,
Riso maroto, rosto vermelho
Traindo a fama indomável
Qual o mais cruel dos espelhos.

Alma de poeta é porcelana
Esculpida pelas mãos da vida,
Pois, a vocação de quem ama
É ter, frágil, a alma dividida.

Alma de poeta é segredo
Que todo mundo sabe:
A rocha morre de medo
Que a montanha desabe.

Ora! É mentira que não convence,
O riso as vezes é pranto,
Seu coração deveras não lhe pertence
Como transpira seu canto.

Alma de poeta é taça de vinho
Derramada numa canção,
As vezes é calor e carinho,
Outras, voluptuosa perdição.

Alma de poeta é pássaro cativo
No encanto da mulher amada,
Que, para sentir-se vivo,
Precisa duma gaiola dourada.


Daniel Carvalho Gonçalves
Escrito em 04 de outubro de 1999
Abraço!


terça-feira, 13 de agosto de 2013

Por amor

Por amor


  Foto: Daniel Carvalho Gonçalves


Por amor o coração descompassa,
Bate desafinado, intensamente,
Faz um silêncio que não passa,
Grita, enlouquecido, demente.

Por amor a alma faz segredo,
Se arrisca num mundo estranho,
Voa além dos seus medos,
Encanta-se com seu mistério tamanho.

Por amor o corpo inventa desejo,
Queima de febre, mágico fogo,
Se rende ao santo pecado dum beijo,
Vence, sutil, seu inconsequente jogo.

Por amor damos o nosso melhor,
Aprendemos  a compartilhar sonhos,
Dividimos, sobrevivemos ao pior,
Somos guerreiros, infantes risonhos,
Coração, alma e corpo numa nota só.


Daniel Carvalho Gonçalves
Escrito em 11 de maio de 2013
Abraço!

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Soneto ao meu pai

Soneto ao meu pai


  Foto: Daniel Carvalho Gonçalves


Comparar-te-hei a um carvalho frondoso
Porque tens, pai, a força desse gigante,
Tens a invencibilidade em teu braço poderoso,
Na leveza do meu coração infante.

Ah! Tua sombra me oferece abrigo
Quando o sol lá fora parece queimar,
Me refrescando a alma, amigo,
Herói, que nenhum vendaval há de derrubar.

Grato sou, pai, por teu carinho,
Por me ensinares o caminho,
Por me lapidares com tanto amor.

Grato sou por teu gentil abraço,
O mais ninho de todos os espaços,
A canção mais estentórea deste meu fervor.


Daniel Carvalho Gonçalves
Escrito em 08 de agosto de 2007
Abraço!

domingo, 4 de agosto de 2013

O mistério

O mistério


     Foto: Daniel Carvalho Gonçalves


O amor é regato que desce a montanha,
Prólogo de um rio crescente e caudaloso,
É uma terra misteriosa, estranha,
Onde o mais frágil sai vitorioso.

O amor é fogo que aquece o inverno,
Enlouquece o mais frio dos homens,
É sombra fresca ante qualquer inferno,
Alimento sagrado para quem tem fome.

É a mais suportável das dores,
A mais cobiçada de todas as flores,
Embrião do mais divino desejo,

O mais colorido dos caminhos,
O mais hirto e dorido dos espinhos,
O mais esperado dos ensejos.


Daniel Carvalho Gonçalves
Escrito em 24 de agosto de 1999
Abraço!