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segunda-feira, 18 de março de 2013

Permafrost *


  Foto: Daniel Carvalho Gonçalves


Acaso o frescor da noite morena
Te parece uma coisa tão pequena,
Que ao teu sonho não inspira segredo?

Bebes o por-do-sol de cada dia,
Ou sua luz já não desperta poesia,
Como se fora um "script" sem enredo?

Porventura, um sorriso te acalenta,
Ou é apenas migalha que não alimenta,
Pão seco ao solo, abandonado?

Ergues, enfim, preces ao conhecimento,
Sem ouvir, em silêncio, o alento
Duma criança ao teu lado?

Te julgas tão dono da sabedoria,
Que já não sentes nenhuma alegria
Em demonstrar que amas?

Ser insensível assim é esperar que a morte
Seja decidida ao acaso, pela sorte
De um misterioso jogo de cartas.

Ser cego assim é doar-se ao abandono,
É ter a brevidade duma folha de outono,
É  deixar morrer o ser humano,
Ou que a solidão te roube o sono.

A rotina nos cega e ensurdece.
As coisas simples acontecem
E nem sempre o coração percebe
Como um simples sol derrete a neve.


* Solo fértil, na Groenlândia, que permanece congelado, debaixo da neve e do gelo.


Daniel Carvalho Gonçalves
Escrito em 23 de fevereiro de 2000
Abraço!



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