Rosa
Foto: Daniel Carvalho Gonçalves
Fazia frio naquela madrugada, em fins de julho, e Ícaro podia sentir a pele arrepiada sob o agasalho de lã que usava. Estava distraído, pensando na cama quente e aconchegante que o esperava. Ah! Iria dormir até o meio-dia.
Foi quando se surpreendeu com a imagem de uma mulher maltrapilha, loira, de olhar sofrido e profundo, uma mistura de tristeza e mistério, vindo em sua direção.
- Apesar da solidão dessa noite, há uma linha tênue entre o seu destino e a descoberta do amor, "disse ela".
Ele a olhou, em silêncio de espanto, como quem pergunta "quem é você?", afinal, ela, apesar de desprotegida, nada lhe pedira.
Não soube explicar sob que feitiço tirara o agasalho e oferecera a ela, quebrando o silêncio:
- Como se chama?
- Não importa. Me chame de Rosa.
Havia mágica naqueles olhos azuis como o mar profundo, havia paz e dor, talvez carência, algo inexplicável. Sentiu vontade de beijar aqueles lábios bem feitos, mas, engraçado, ela estava distante, como se tivesse um "quê" de divino.
- Não, não sou nenhuma bruxa, apenas uma mulher observadora. Um homem vagando em plena madrugada, só pode estar se sentido sozinho. E quem me olha com o carinho com o qual você me olhou, deve ser um homem sensível e, com certeza, em busca do amor.
Sentaram-se ali mesmo, na grama, falaram sobre suas desilusões e sonhos, sorriram como velhos conhecidos e dormiram sob o sereno.
Ícaro acordou com o sol forte nos olhos e pensou:
- Que lugar estranho para se dormir! E a mulher?
Olhou ao redor e não encontrou ninguém.
- Será que sonhei? "pensou".
Seu agasalho estava jogado a poucos metros dali.
Levantou-se e pegou-o. Já ia saindo quando notou que, ali, embaixo do agasalho, ainda molhada de orvalho, havia...
uma rosa vermelha.
Daniel Carvalho Gonçalves
Escrito em 12 de abril de 2001
Abraço!
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